domingo, 14 de maio de 2017

Bolsonaro e a miséria humana



Na ocasião do golpe parlamentar em nossa democracia levado adiante pelas piores espécies de seres humanos que já chegaram ao congresso nacional


"Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff, pelo exército de Caxias, pelas Forças Armadas, pelo Brasil acima de tudo e por Deus acima de tudo, o meu voto é sim".

Assim o deputado Jair Messias Bolsonaro votou no último domingo (17) pelo impeachment da presidente Dilma. Para os que não conhecem a história do país suas palavras podem ter passado desapercebidas em meio ao show de horrores daquela várzea que se tornou a Câmara dos Deputados. Mas não.

Carlos Alberto Brilhante Ustra foi o comandante do DOI-Codi –órgão de repressão da ditadura militar– entre 1970 e 1974. Neste período, é responsabilizado pelo assassinato de pelo menos 50 pessoas e pela tortura de outras tantas. Torturou e matou de forma atroz e covarde, sendo lembrado como um dos maiores carrascos da ditadura.

Torturou a militante política Amelinha Teles na presença de seus filhos, então com 4 e 5 anos de idade. "Ele levou meus filhos para uma sala, onde eu me encontrava na cadeira do dragão [instrumento de tortura utilizado na ditadura militar em que a pessoa era colocada sentada e sofria choques com fios elétricos atados em diversas partes do corpo], nua, vomitada, urinada... e ele leva meus filhos para dentro da sala? Para mim, foi a pior tortura que eu passei. Meus filhos tinham 5 e 4 anos".

Torturou a irmã de Amelinha, Criméia de Almeida, grávida: "Apanhei muito e apanhei do comandante. Ele foi o primeiro a me torturar e me espancou até eu perder a consciência, sendo que era uma gestante bem barriguda. Eu estava no sétimo mês de gravidez".

Torturou por mais de doze horas seguidas o ex-deputado Adriano Diogo, após matar seu colega, o estudante Alexandre Vannuchi Leme: "Tirou o capuz e falou: Acabei de mandar o Minhoca (apelido de Alexandre) para a Vanguarda Popular Celestial. Você vai ser o próximo".

Torturou o vereador paulistano Gilberto Natalini: "Tiraram a minha roupa e me obrigaram a subir em duas latas. Conectaram fios ao meu corpo e me jogaram água com sal. Enquanto me dava choques, Ustra me batia com um cipó e gritava me pedindo informações".

Torturou também a presidente Dilma Rousseff, de forma verdadeiramente pavorosa, com choques, pau de arara e arrancando seus dentes: "Era aquele negócio meio terreno baldio, não tinha nem muro direito. Eu entrei no pátio da Operação Bandeirante e começaram a gritar: 'Mata!', 'Tira a roupa', 'Terrorista','Filha da puta'. Você vai ficar deformada e ninguém vai te querer. Ninguém sabe que você está aqui. Você vai virar um 'presunto' e ninguém vai saber...", disse ele então à presidente.

Um deputado federal render, às vistas de toda a nação, homenagem a um torturador –como justificativa do voto contrário a uma pessoa por ele torturada– é uma perversidade inominável. É ademais crime de apologia à tortura, como denunciou a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

Numa cínica inversão de valores, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, fala em cassar o deputado Jean Wyllys, que, legitimamente enojado com os insultos de Bolsonaro, deferiu-lhe uma cusparada. Ora, o que foi a cusparada de Jean –que representou o desejo de milhões de brasileiros– perto dos elogios canalhas a Brilhante Ustra? Se as leis que protegem os direitos humanos valessem algo no Brasil, Bolsonaro teria saído da seção de domingo cassado e algemado.

Muitos são os que preferem enxergá-lo como a caricatura do louco, um psicopata. Isso seria aboná-lo. Seria considerar também como loucos os milhares que o exaltam como "Bolsomito" e o 5% do eleitorado que o tem como seu candidato a presidente da República.

Ao exaltar torturadores, agredir minorias de forma covarde e conclamar a eliminação dos inimigos, Bolsonaro ganha espaço por despertar um ponto sensível da miséria humana. Aquilo que Kant chamou de mal radical e Freud de destrutividade da pulsão de morte.

Diz Freud, em "O Mal Estar na Civilização": "Sob circunstâncias propícias, quando estão ausentes forças contrárias que a inibem, a agressão se exterioriza espontaneamente, desmascara os seres humanos como bestas selvagens. Em consequência, o próximo representa uma tentação para satisfazer nele a agressão, escravizá-lo, usá-lo sexualmente sem seu consentimento, humilhá-lo, infligir-lhe dores, martirizá-lo, assassiná-lo".

Este é o estado de espírito do torturador. É também o sentimento que Jair Bolsonaro desperta em seus "Bolsonetes", criando uma verdadeira comunhão do ódio. Aí florescem as sementes do fascismo.

Pela memória de Alexandre Vannuchi Leme e de todos os mortos da ditadura; pela honra de Amelinha e de todos os torturados da ditadura; por todos eles, é preciso dizer não ao fascista Jair Messias Bolsonaro.

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